quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O Nosso Plano de Parto

Eu pari em casa. E, antes de parir em casa fiz o "Nosso Plano de Parto"! 

Instrumento muito útil e necessário onde colocamos todas as nossas vontades e desejos para o momento do trabalho de parto e o nascimento do nosso filho, bem como o Plano B em caso de transferência hospitalar (se você for parir em casa) ou mesmo uma cesárea.

Se jogar lá no google tem vários modelos e exlicações. Eu joguei e juntei um pouco dali e um pouco daqui, e mais um pouco da minha cabeça e fiz o meu plano de parto. 

Tem também vários sites legais falando mais sobre o que é e para que serve. (aqui e aqui e aqui)





Compartilho ele com vocês. Podem copiar, ajustar, usar como inspiração:

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O Nosso Plano de Parto

Antes de tudo, quero agradecer a vocês por estarem conosco em um momento tão crucial, divino e desejado de nossas vidas. Chegamos até aqui com todo o amor do mundo e é com esse mesmo amor que queremos viver cada minuto dessa passagem, dessa transformação que acreditamos ser o parto.
Nosso desejo maior é receber o nosso filho da forma mais humana, mais familiar, mais natural e mais inteira possível. Queremos viver intensamente essa experiência e estamos certos de que a nossa criação divina e os nossos instintos estarão ao nosso lado, para isso. Sabemos que meu corpo foi criado por Deus e temos a certeza que Ele estará nos guiando em todo o momento.
Escolhemos o parto domiciliar, por acreditarmos ser esse o melhor ambiente para o nascimento de uma família. Embora saibamos que, na vida, nem sempre as coisas acontecem do jeito que planejamos, estamos certos de que fizemos tudo o que tínhamos ao nosso alcance para garantir a concretização de nossos desejos em relação ao parto. Por isso, estamos tranquilos para viver a nossa experiência, como ela tiver que ser.
Segue o nosso plano de parto, com algumas informações que consideramos importantes a respeito de como desejamos que seja o nascimento do nosso filho.

Quem está nascendo?
Filho: ainda não decidimos quanto a isso, provavelmente será escolhido no momento em que virmos seu rostinho pela primeira vez.
Mãe: Gabriela Martins Valerim (Gabi)
Pai: Henrique da Silva Velentin (Chicó)
Onde? 
Na nossa casa. Rua: Interlagos,
Quando?
DPP pela DUM: 07/11/2015
DPP pelo USG (9s+3d): 13/11/2015
Quem faz parte da nossa equipe?
Doulas: Michele e Sandi
Enfermeiras Obstetras: Fernanda / Josiane / Joyce / Juliana
Médico Obstetra: será minha referência o Lauro.
Fotógrafa: Catherine

O que achamos importante que seja do conhecimento de todos os que estarão presentes, durante o parto domiciliar?
·       Ao perceber o início do trabalho de parto, comunicarei a Fernanda. Após avaliação dela, peço que ela mesma acione as minhas doulas, as outras enfermeiras Josi e Hanami e a fotógrafa. 
·       Sei que será realizado um exame de toque inicial para confirmação do trabalho de parto, junto a outros sinais e sintomas. Mas peço, por gentileza, que seja o único. Caso eu perceba necessidade ou a equipe, gostaria de eu mesma me examinar.
·       Se a bolsa romper antes das contrações, avisarei a Fernanda. Prefiro continuar minha rotina sem alterações, se eu não estiver em trabalho de parto e não houver indicação para acompanhamento imediato.
·       Pretendo caminhar, fazer exercícios, enfim, contribuir para o avanço do trabalho de parto. Entretanto, se eu não quiser fazer nada, e inclusive precisar dormir, gostaria que minha decisão fosse respeitada. Peço, por gentileza, que não me orientem a vocalizar, nem me soltar, não me elogiem nem critiquem. E só seja sugerida posições ou alterações no meu padrão de respiração caso realmente necessite ou eu esteja “perdendo o controle” em um mau sentindo.
·       Ainda que haja muita gente no ambiente, gostaria muito de silêncio, privacidade e sossego. Sei da incrível capacidade que a equipe tem em tornar-se invisível caso não esteja sendo necessária sua atuação naquele momento, por isso confio em vocês e sei que terei privacidade e amor emanado de cada uma, mesmo em silêncio.
·       Todo o material solicitado para o parto domiciliar está dentro de uma caixa transparente, guardada no meu guarda-roupa. Tem o material absorvente, cueiros, lona plástica, peneira, espelho, pote para armazenamento da placenta, cartolinas, toucas para o filho e várias toalhas de banho e rosto. O acesso está bem fácil. Qualquer dúvida, meu esposo, Chicó, poderá ajudar.
·       Haverá bebidas e comidinhas disponíveis para todos. Caso necessitem de algum auxílio em relação a isso, poderão solicitar a meu esposo. Por gentileza, fiquem à vontade e comam e bebam o que quiser. Tudo que estará à disposição foi comprado com muito carinho para vocês, da equipe.
·       Quero comer e beber de tudo, sem restrições, caso eu manifeste vontade para isso. Inclusive queremos tomar uns goles de vinho (amo vinhos).
·       Quando o TP começar a entrar em uma fase mais adiantada, usaremos (preferencialmente) o nosso quarto ou chuveiro.
·       Gostaria que minhas filhas mais velhas, nossas cachorrinhas, circulem livremente pela casa. Elas não são bravas. Caso eu ou meu esposo não as quisermos pela casa, prenderemos na parte de trás da casa.
·       Peço que todos os presentes registrem a evolução do TP, com fotos e vídeos (fazendo isso da forma menos invasiva possível). Teremos câmeras disponíveis no ambiente. Em especial, o registro da fase final do expulsivo e dos primeiros momentos do nosso filho conosco, em foto e vídeo, é muito importante para nós (quem puder fazer isso, nesse momento, eu agradeço muito). AMO vídeos e fotos de parto!!!
·       Quero que sejam respeitados nossos momentos de espiritualidade e conexão com Deus, sem qualquer tipo de olhar ou atitude de julgamento ou repreensão. Deus faz parte de mim e sei que sem Ele não estaria nem grávida. Ele é o tudo para Nós e com absoluta certeza, estaremos sempre conversando e nos conectando com a Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) em todo o processo do nascimento de nosso filho.
·       Peço, por gentileza, que todos os aparelhos eletrônicos permaneçam no modo silencioso (não no modo vibra). Caso alguém necessite atender ligações, deverá fazê-lo em um local afastado de onde eu estiver.
·       Não faço ideia de como ficará meu estado de espírito na hora, acredito que conversas paralelas poderão me incomodar. Enquanto eu demonstrar descontração, não há problemas com as conversas. No entanto, se eu começar a demonstrar maior introspecção, o ambiente próximo a mim deverá permanecer em silêncio, apenas com música tocando e com o mínimo de intervenções verbais possível.
·       A iluminação sempre deverá ser suave e indireta, utilizando apenas as nossas luminárias e algumas velas. Amo a penumbra!!!
·       Se estiver muito calor, poderemos ligar o ar condicionado e/ou ventilador.
·       Gosto de permanecer com a televisão ligada, em qualquer canal, sempre que estou em casa, mesmo sem estar assistindo. Por isso, peço que a mantenha ligada, a não ser que eu manifeste preferência em desligar.
·       Queremos música tocando, durante todo o tempo (a não ser que eu solicite o contrário, na hora, por algum motivo ou prefira a televisão). Já temos uma playlist pronta, é só deixar rolar.
·       Sinto-me agoniada quando a casa está desarrumada. Mesmo em partos que acompanhei tento sempre manter a ordem, pois para mim isso trás sensação de paz e harmonia. Por isso, peço, por gentileza, que mantenham o ambiente o mais arrumado e limpo possível, nem que para isso precise ir jogando tudo dentro dos armários e lá na parte de trás da casa. O que me incomoda é a bagunça aparecendo.
·       Enquanto acharem que meu marido e eu estamos evoluindo bem, queremos que deixem as interações fluírem apenas entre nós. Gostaríamos que toda e qualquer interferência fosse guardada para os momentos de real necessidade. Queremos muito viver esse momento da forma mais natural e intuitiva possível. É claro, porém, que se a nossa intuição não estiver sendo o suficiente, toda a ajuda será bem-vinda.
·       Se eu estiver concentrada e em boa evolução, evitem falar comigo. Falem somente o necessário, quando necessário, para evitar que eu me prenda no plano racional e em meu lado técnica de enfermeira. Quanto menos verbal puder ser a interação comigo, melhor.
·       Não quero ser informada de tudo o que envolva a evolução do TP, do que estiver acontecendo comigo e com o nosso filho, a não ser que algo esteja fugindo da normalidade. Novamente para não acionar meu lado técnico do processo. Mas meu esposo, talvez, precisará dessas informações : )
·       O nosso filho deverá ser monitorado quantas vezes forem necessárias.
·       Se tem uma coisa que faz tudo fluir melhor na minha vida, é massagem. Aceito massagem a qualquer momento e em qualquer parte do corpo com óleo vegetal e essencial (prefiro que não usado o de rosa mosqueta nem o de lavando, o cheiro deles me enjoaram muito durante a gestação). Se o toque ou o cheiro me incomodar, eu vou sinalizar.
·       Sempre amei tomar banho, para mim é um momento de profundo relaxamento e conexão com Deus e comigo mesma. Por isso, acredito que passarei a maior parte do tempo nele. Prefiro luzes apagadas, somente com abajur de tomada (que estará disponível já no banheiro). Como temos somente um banheiro, peço que não fiquem constrangidas caso precise usá-lo enquanto eu estiver no banho e fiquem à vontade para pedir licença ao meu esposo quanto a isso.
·       Gostaria que a banheira inflável fosse instalada em meu quarto. Sei que dificultará na questão de mantê-la aquecida, mas peço, por gentileza, que todos se envolvam nisso e esse meu desejo seja mantido. Serão disponibilizadas panelas e chaleiras elétricas. Sintam-se à vontade para pedir ao Chicó ajuda para trazer as panelas ao andar de cima.
·       Prefiro que não fiquem tocando nem aparando meu períneo durante o expulsivo, a não ser que haja real indicação para tal. Estará disponível uma manteiga preparada por mim para ajudar na lubrificação, peço que me seja oferecido para eu mesma passar.
·       Tenho uma amiga fiel que me acompanhou durante toda a gestação, a hemorróida, e acredito que dependendo da posição que eu escolher para ficar (por exemplo, em quatro apoios) ela ficará muito exposta e doer. Neste caso, peço, por gentileza, que sejam colocadas compressas mornas para aliviar.
·       Queremos muito que o parto aconteça na água e gostaríamos que tudo fosse conduzido para isso. No entanto, estaremos abertos e atentos para respeitar as sensações do momento, para que tudo aconteça da melhor forma para mim e para o nosso filho.
·       No momento em que nosso filho estiver saindo (expulsivo), gostaria de silêncio total!!! Por favor, não me mandem fazer força nem elogiem meu desempenho. Quero sentir total entrega neste momento, e sinto que se alguém conversar comigo eu perderei o foco. Orientações só se real indicação e necessidade.
·       Gostaríamos que nosso filho fosse aparado por mim ou meu esposo. Quero que seja respeitado o silêncio mesmo depois dele sair, essa hora é muito divina e especial para nós!!! Caso precise de alguma manobra durante o expulsivo ou uma intervenção com o bebê, sintam-se à vontade de realizá-la.
·       Gostaria de amamentar meu filho somente após ele mesmo manifestar desejo para tal.
·       Gostaria que o cordão somente fosse cortado após a dequitação da placenta. E que eu ou o Chicó o fizesse.
·       Assim que a placenta sair, quero ter contato com ela. Amo placenta!!!! Quero que ela seja “carimbada” (teremos cartolina para isso). Logo depois, quero que seja preparado um suco pela minha doula Sandi com um pedaço dela e me seja oferecido junto a algo salgado para comer. Após, deverá ser colocada em um pote (já estará separado para isso) e guardada no freezer.
·       Gostaria de tomar banho logo que possível e colocar uma roupa limpa. Peço que me seja oferecido os absorventes que estarão no freezer com chás preparados por mim para alívio do períneo.
·       Não gostaria de pingar o colírio nem administrar a vitamina K. Assumimos todo e qualquer desfecho!!! Caso eu ache necessário no momento do nascimento, eu pedirei que seja administrado.
·       Logo em seguida ao nascimento (poderá ser antes mesmo da dequitação, caso esteja tudo bem), meus pais e irmãos deverão ser chamados. Angela e Marcio, Pedro Henrique e João Vitor: 48 8464-7377/8439-5494.

O que achamos importante que seja do conhecimento de todos, caso os planos precisem mudar?
Plano B (em caso de transferência eletiva):
Hospital São Donato – Içara. Com dr. Lauro.
Plano B (em caso de transferência de emergência):
Hospital São José ou Unimed – Criciúma. Com plantonista.

Em caso de parto hospitalar:
·         Meu marido deverá estar comigo em todos os momentos. Não quero ficar sozinha, nunca.
·         Nossa equipe toda deverá estar conosco, o máximo de tempo possível e dentro das possibilidades e rotinas do hospital.
·         Não quero ocitocina, a menos que tenha real indicação.
·         Não quero analgesia.
·         Não quero cardiotocografia, a menos que tenha real indicação.
·         Não quero lavagem intestinal.
·         Não quero tricotomia.
·         Não quero episiotomia em hipótese alguma.
·         Não quero que seja feita a manobra de Kristeller, em hipótese alguma!
·         Quero liberdade para me movimentar.
·         Quero acesso a métodos não farmacológicos para o alívio da dor (chuveiro principalmente).
·         Caso seja no hospital São Donato, a banheira inflável deverá ser levada. Peço que se eu precisar ir antes, alguém se encarregue de esvaziá-la e levá-la, por favor. É muito importante para mim.
·         Durante o TP, quero liberdade para consumir líquidos e alimentos leves.
·         Durante todo o TP e após o nascimento, deverá ser respeitada (o máximo possível) a conduta indicada no plano de parto domiciliar.
·         Deverá ser reproduzido (o máximo possível) o ambiente idealizado para o parto domiciliar (música, iluminação reduzida, silêncio…).
·         O cordão só deverá ser cortado depois que parar de pulsar e, se possível, pelo meu marido.
·         Não quero que pinguem colírio no nosso filho, assumimos todo e qualquer desfecho.
·         Quero que eu mesma (ou o meu marido ou alguém da equipe), possamos fazer todas as trocas do nosso filho, bem como dar banho nele (após no mínimo 6 horas de nascido).
·         Não quero, em hipótese alguma, que meu filho seja alimentado de outra forma que não seja no meu peito. Se precisar de glicose, por hipoglicemia, que seja feito na minha frente após cofirmação com glicosímetro.
·         Não quero que meu filho se afaste do local onde eu estiver, nem por um minuto. Se por alguma razão isso for inevitável, quero que ele fique o menor tempo possível longe de mim e sempre acompanhado pelo meu marido ou alguém de minha equipe.
·         Qualquer procedimento necessário comigo, ou com o meu filho, deverá ser autorizado por mim e/ou meu esposo.

Em caso de cesariana:
·         Em caso de real necessidade e apenas após meu consentimento (salvo situações de emergência), deverá ser realizada da forma mais respeitosa e tranquila possível.
·         Quero que seja chamado, se possível, o Dr. Lauro para realizá-la. Minhas enfermeiras Fernanda e Josiane que farão esse contato.
·         O meu marido deverá estar comigo em todos os momentos. Não quero ficar sozinha, nunca.
·         Nosso filho deverá vir direto para o meu peito e eu não quero estar amarrada, nesse momento.
·         Nosso filho deverá mamar, assim que possível e apresentar vontade.
·         Não quero que meu filho se afaste do local onde eu estiver, nem por um minuto. Se por alguma razão isso for inevitável, que ele fique o menor tempo possível longe de mim e sempre acompanhado pelo meu marido.
·         Qualquer procedimento necessário comigo, ou com o nosso filho, deverá ser autorizado por mim e/ou meu marido.”

Agradeço muito a todas da equipe e a ajuda para tornar esse momento especial e tão importante para nós em um momento também feliz e tranqüilo como deve ser. Quero que saibam que confiamos em todas vocês!!!

Com muita gratidão e amor,

Gabi e Chicó.



Outubro de 2015






domingo, 4 de dezembro de 2016

Reflexões sobre o protagonismo do "parir"

A mulher, ao longo da história da humanidade, pariu seus filhos. Ela tinha isso como um processo natural e fisiológico, tanto quanto respirar ou comer. Sabia parir.
Não duvidava da capacidade de seu corpo em gestar e dar à luz a seu filho. Sabia que a criança ia nascer. E nascia! Nascia em casa, no quarto... Com jornais forrando suas camas e com ajuda de parteiras da comunidade e na presença de seus familiares. O tempo foi passando, a tecnologia e a medicina avançando, e, o parto deixou de ser um evento natural, feminino e familiar para se tornar um procedimento médico. Tão perigoso a ponto de ter de ser realizado dentro do ambiente hospitalar com médicos ajudando esse corpo a parir. Um corpo que sempre funcionou, parecia que já não funcionava mais. Esse corpo, agora, precisava de alguém para poder exercer sua função fisiológica: parir. E, junto a essa mudança de paradigma, veio um pacote de teorias e intervenções. Estudos pesquisavam sobre as mulheres em trabalho de parto, sobre o tempo e jeito "seguro" de dar a luz.
 E, TODAS as mulheres foram introduzidas num saco só... Ou seja, por exemplo, todas as mulheres tinham que dilatar um tanto por hora, se assim não ocorresse era preciso intervir mesmo se ela e bebê estavam bem... E, algo que era tão particular, íntimo e que a mulher vivia por instinto, tornou-se algo ameaçador que poderia dar mais errado do que certo. E, com isso, medo, pavor, receio e descrença no parto, no corpo e na capacidade dessa mulher dar à luz de forma natural.  Intervenções são bem-vindas, quando de fato precisam! 
Mas será que todas as mulheres precisam? Será que a mulher perdeu a capacidade de parir por instinto? Será que a mulher perdeu a crença nela mesma? O poder de parir, a glória e o louvor de dar à luz tinha sido transferido aos profissionais.

Após muitos questionamentos como esses, surgiu um novo movimento. Um movimento de resgate do protagonismo e autonomia da mulher. Um resgate de poder. Um resgate de algo que foi se perdendo com o tempo e as circunstâncias. Mulheres começaram a perceber que podiam parir. Que gostavam de parir. Que sabiam parir. Agora, confiavam na natureza de seus corpos. Sabiam que só precisavam de alguém ou de intervenções quando algo fugia da segurança do processo. O corpo da mulher e seu bebê quem agora dita as ordens! E não enfermeiros, médicos ou qualquer outro profissional da saúde. Alias, quando as mulheres resgataram o poder de dar à luz, a ordem se inverteu: os profissionais está para a mulher, e não a mulher para o profissional.
E, com isso... De uma demanda das próprias mulheres, começaram a surgir algumas figuras "novas". As parteiras contemporâneas: as enfermeiras obstetras ou obstetrizes. E, também, da demanda das mulheres, o parto hospitalar tradicional, com protocolos rígidos, já não mais atendia seus desejos. Por conseguinte, as mulheres voltaram a querer parir em casa, no aconchego de seu lar, com seus familiares... mas queriam a segurança garantida se algo saísse da normalidade do processo.
Então, equipes técnicas começaram a nascer para assistir com segurança e cuidado essas mulheres em casa, respeitando o protagonismo feminino no processo de parir.
Esses partos domiciliares começaram a ser objetos de grandes estudos, que, após concluídos, demonstraram segurança semelhante aos partos hospitalares, quando acompanhados por profissionais habilitados (enfermeiros ou médicos obstetras) e com gestantes de baixo risco. Fazendo com que a Organização Mundial da Saúde publicasse uma nota que o local seguro para uma mulher dar à luz era o local onde ela se sentia segura, e, ainda que reconhece como profissionais habilitados para prestar assistência ao parto tanto médicos como enfermeiras obstetras! Hoje, em alguns países, inclusive os de primeiro mundo como a Inglaterra, acredita-se na segurança do parto domiciliar planejado, desde que a mulher seja acompanhada durante a gravidez (de baixo risco) e assistida por uma enfermeira obstetra durante o parto, inclusive essa assistência é oferecida pelo sistema de saúde pública.
Apesar da posição contrária de alguns conselhos profissionais, que vem desaconselhando o parto domiciliar, vale destacar que tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) como a Federação Internacional de Ginecologistas e Obstetras (FIGO) respeitam o direito de escolha do local de parto pelas mulheres e reconhecem que, quando assistido por profissionais habilitados, há benefícios consideráveis para as mulheres que querem e podem ter partos domiciliares. Outras sociedades no mundo, como o American College of Nurse Midwives, o Royal College of Midwives e o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists apoiam o parto domiciliar para mulheres com gestações não complicadas. Portanto, não há motivos, diante a ciência, para que o parto domiciliar não seja oferecido a mulheres de baixo risco, uma vez que pode conferir consideráveis benefícios para elas e suas famílias.
Por fim, a discussão sobre o local de parto deve se pautar, essencialmente, em dois níveis: respeito à autonomia e ao protagonismo feminino, uma vez que a escolha do local de parto é um direito reprodutivo básico; e reconhecimento e adequada interpretação das evidências comparando partos domiciliares planejados e partos hospitalares em gestantes de baixo risco. Ou seja, o desejo da mulher de parir em casa com segurança e suporte de profissionais treinadas para isso deve ser respeitada e observada à luz das evidências científicas sobre o assunto!
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Texto de Gabriela Valerim - Enfermeira Obstetra
Parte da reportagem cedida a Revista W3

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O que fazer nos intervalos das contrações?

E no fim da gravidez, seu bebê já está pronto para nascer. Ele mesmo que envia uma mensagem ao seu cérebro, que , por sua vez, responde desencadeando o trabalho de parto. Ainda, dias antes, o útero inicia um trabalho de ensaio... São as contrações de Braxton-Hicks, ou contrações de ensaio. Elas são indolores (ou pouco doloridas), sem ritmo e sem frequência regular. Servem para preparar o corpo para o trabalho de parto e parto.

Mas, quando seu corpo entra em trabalho de parto de verdade, você percebe que a intensidade da contração é diferente, a frequência existe (e vai diminuindo com o passar das horas). Mas ainda não é a hora de ir ao hospital (a hora de ir ao hospital depende da distância da sua casa, porém nunca ir antes de as contrações estarem com um intervalo de 5 min entre elas, por pelo menos uma hora) e nem de chamar a equipe de parto. Uma doula pode ser muito útil nessa fase, tirando as dúvidas e anseios, bem como proporcionando conforto físico.

Mas, o que fazer durante as contrações? O que fazer entre elas? O que fazer em casa? E quando chegar ao hospital, o que fazer?

Abaixo escolhi algumas “dicas” do que fazer. Mas só você saberá o que será melhor. Preste atenção em seu corpo. NADA é melhor do que seu instinto feminino neste momento. DEIXE seu corpo falar!

1)      COMA E BEBA

Não fique por muito tempo sem comer. O trabalho de parto exige muita energia e disposição da mulher, por isso, se estiver fraca e sem ânimo não será legal! Coma frutas, comidas leves, sopas, beba muita água, chá de canela, gengibre, pimenta. No fim do trabalho de parto é comum, e normal, as mulheres sentirem enjoo e até vomitar, e esse mal estar pode ser pior se você estiver de estomago vazio por muito tempo. 



 Aproveite  para comer no inicio, uma vez que quanto mais avançado estiver o trabalho de parto menos vontade de se alimentar você sentirá!





2)      MEXA-SE

Durante a contração a mulher tende a ficar parada na posição mais confortável que encontrar, mas entre elas, no intervalo, mexa seu quadril. Rebole, dance, fique de cócoras, de joelhos, de quatro apoios, ande... Sinta seu corpo e perceba qual exercício você se sente mais confortável. Se tiver a bola de pilates, sente-se nela, rebole nela... No hospital geralmente tem, não espera alguém oferecer. Se estiver no hospital, aproveite e use a bola a favor de seu trabalho de parto! Leve para dentro do chuveiro, mexa sua pelve em cima dela!



3)      TOME BANHO QUENTE

O trabalho de parto é movido pelo nosso cérebro mais primitivo. E o barulho da água quentinha caindo no corpo e no chão estimula esta parte cerebral, ajudando na dilatação. O banho quente também alivia as dores da contração. Coloque um banco dentro do chuveiro e sente nele, ou fique de cócoras apoiada nele, ou fique de pé mesmo. Atenção: um banho quentinho no inicio do trabalho de parto é tão relaxante que pode inclusive pode ser usado como um teste para ver se de fato o trabalho de parto começou, fique uns 30min no banho e observe se as contrações continuam iguais ou mais fortes após o banho, se sim, muito provável que tenha começado!

4)      NAMORE

Os hormônios liberados no trabalho de parto, responsáveis pela contração, são os mesmos liberados quando namoramos e nos sentimos amadas. Então fique juntinho de seu companheiro nestes momentos. Beije, faça sexo, receba carinhos e massagens. Sinta-se cuidada e amada <3


5)      DESLIGUE-SE DO MUNDO

Hormônios que regulam nosso cérebro pensante (cérebro racional) são antagonistas (“anulam”) aos que regulam o nosso cérebro primitivo (cérebro que atua no trabalho de parto e parto). Para entender melhor... quando alguém tem relação sexual e durante o ato pensa muito nos problemas, nas coisas que tem para resolver, de duas, uma: ou não consegue continuar a relação, nem sente vontade de começar, ou se continuar, dificilmente  terá um grande prazer. No parto igual! 


Quanto mais estimulado estiver o nosso cérebro pensante menos nosso trabalho de parto evolui naturalmente. Inclusive, se o cérebro racional estiver tão estimulado a evolução do trabalho de parto pode até PARAR! Então, quando começar as contrações não saia anunciando para todos, conte apenas para àqueles que vão te manter calma e amada. NÃO, isso não é egoísmo, é proteção de seu parto! Peça para alguém ficar responsável pelas tarefas pensantes, como arrumar a mala do bebê se não estiver arrumada, lavar a louça, resolver pequenos problemas que podem surgir ao longo do trabalho de parto... peça para falarem baixo com você e se possível, somente o necessário! Evite conversas que possam gerar ansiedade e medo, e prefira conversar carinhosas e estimuladoras!

6)      CURTA AS DORES



Não tente fugir da dor durante as contrações. Elas virão! Independente de você querer ou não, elas virão. Elas fazem parte do processo, elas são dores naturais, dores que tem um objetivo em comum com você: trazer seu bebê ao mundo! Se jogue nelas, curta elas. Respire profundamente durante as contrações, concentre-se e visualize seu útero empurrando seu bebê mais para baixo e seu colo do útero abrindo-se como um portal para a passagem de seu filho! Grite “AAAAHHHHHHH” como uma leoa, abrir a garganta abre o colo uterino! A contração dura segundos, e depois você tem um intervaldo de minutos...

“A dor seria então o veículo para o recolhimento, para a introspecção, para sair do mundo das formas e entrar no mundo sem limites, sem palavras, sem luzes… É um momento de abertura de consciência. Assim a dor é suportável, é necessária, porque nos permite 'sair' do mundo racional, e só fora do mundo racional se pode parir em liberdade.” (Laura Gutman)


Permita-se sentir e ouvir seu corpo! Tenha um parto lindo! Informe-se!

Com amor,
Gabi.