Toquei-me. Não sei por quê, quando vi já estava com o dedo
dentro da vagina. Senti um ‘gordinho’ (na verdade era ‘fofinho’ mas ‘gordinho’
foi a palavra que veio na minha cabeça na hora que senti). Era a bossa do meu
filho.
Bossa: aquela parte edemaciada que fica na cabeça dos bebês
que estão passando pelo canal do parto. Sabe aquela parte em cima do ‘cucuruco’.
Tem até bebês que nascem com ela e vai sumindo ao longo das horas.
Então, era a bossa! Apertei um pouco. Senti uma parte dura. Era
a cabeça dele! Que misto de emoções. Na verdade, eu estava tão introspectiva,
tão animalesca e instintiva que não me veio alegria nem ansiedade. Parecia que
já tinha passado por aqui várias vezes. Foi estranho e bom!
Pedi para a parteira tocar para confirmar. Na verdade, pedi
para ela tocar para sentir como tava e tal. Eu sabia que ele estava descendo. E
sabia que estava com dilatação completa. Sou parteira. Já tinha tocado muitos
bebês assim. Mas aquele era o meu. Meu parto. Meu momento. E, como desde o
inicio da gestação, eu tinha decidido: me permitiria ser a gestante, a
protagonista, a mulher, sem essa de misturar a parte “enfermeira” de mim.
E ela toca. Sente também. Mas pede para a outra parteira
tocar. Para ter certeza. E a outra toca e olha para mim com um sorriso lindo
(que está registrado na minha memória até hoje): “Estais completa Gabi”. Isso
era umas 2hr depois do primeiro toque. Meio dia estava com 2-3cm e colo fiiiino
feito papel.
Colo fino: o nosso colo uterino é semelhante a ponta do
nariz. Para ele dilatar, tem que afinar feito os lábios da boca.
Pois bem. Estava completa. E agora? E agora nada....
continuei a viver meu momento de forma intensa e entregue. Não sentia vontade
de empurrar. Claro, ainda não estava beeeem no expulsivo. Não tinha os puxos espontâneos.
Puxos espontâneos: aqueles que a mulher faz naturalmente. Ela
sente essa vontade. É instinto. É a força do corpo agindo. Diferente daqueles
que alguém manda ela fazer!
Eu sabia que meu filho era grande. Sabia que ele iria
precisar de cada milímetro da abertura da minha pelve. E meu corpo pedia
movimentos. Pedia posições de quatro apoios. Pedia cócoras. Pedia vocalização. E
por fim, pediu uma ultima posição. Aquela que fiquei até ele nascer.
Mas, antes disso, passei pela fase da covardia. Passou
rapidamente, entre uma contração e outra, pela minha cabeça: putz, quero um
buscopan, vou para o hospital, chamar o médico fulano, e ficar lá. Não pera,
não vou tomar buscopan, já vi casos que as contrações deram uma brochada com
ele. Então vou fazer o que? Bom, cesárea? Claro que não. E agor...... veio
outra contração e esse plano foi por água a baixo!
E de cócoras, segurando num rebozo, com as pernas encostando
na borda da piscina, com meu marido me apoiando por trás, fiquei por algumas
horas.... umas 2 mais ou menos. Entre uma contração e outra, levantava. Para rebolar,
para aliviar a pressão no ânus, para não ficar dormente minhas pernas... mas,
tudo fazia por instinto. Não pensava muito. Só vivia.
Toquei-me mais algumas vezes. Era incrível sentir que ele
descia! Tentei tocar-me nas contrações para sentir ele empurrado, mas não
consegui. Mostrei para meu marido, peguei a mão dele e empurrei o dedo pela
vagina. Ele sentiu, ficou alguns longos segundos sentindo. E sorriu.
Teve uma vezinha só que eu toquei e tentei procurar a sutura
para ver se ele tinha feito o giro e tal... coisas de parteira. Mas foi por uns
segundos! Deletei aquela ideia da minha cabeça.... por que não estava
conseguindo raciocinar qual sutura era, para que lado ele tava...
Sutura: aqueles vãos que tem na cabeça do bebê que passa
pela “moleira”. Tem uma forma de sentir elas e identificar se está bem
encaixado, se já fez o giro para nascer (olhando para trás da mãe).
E já estava sentindo algo se abrindo em mim. Sentia ele
descendo pelo canal da vagina. Medo. Tive medo! Do que? Não sei! Mas verbalizei
isso, e minha doula disse: “Gabi, vai com medo mesmo!”. Pronto.... já não tinha
mais medo. Me deu coragem isso!
E foi descendo. E fui sentindo. Tentava ao máximo manter uma
vocalização e não empurrar ‘com tudo’. Apesar da vontade. Mas sabia que ele
precisava descer lentamente. E, assim foi... duas horas aproximadamente sentindo
a cabeça dele descendo. Sentindo meu corpo se abrir. Minha alma se resgar!
Até que senti uma queimação no meio da contração. A cabeça dele
já aparecia durante aos contração. Que ardência! Que medo. Empurro, ou não? Relaxo
ou não? Aí, dói!!!! E foi vindo. Lentamente. Entre uns goles de água e outro. Entre
uma abanada de leque e outra.
Até que numa contração eu senti que ‘agora ele vai sair’. E
saiu. Mas a contração parou. E saiu a cabeça dele até o narizinho. Ok! Respira.
Relaxa períneo. Espera próxima contração. Falo: “Aaarde muito ca#$$%@#” . Saiu
um palavrão, sem querer!
Vocalizo. Abro garganta, libero períneo. E depois de uns
2min a próxima contração. A última! Sinto ele passando, ardendo, a sensação é
de que está rasgando tudo! Mas é bom! É loucura! E ele sai!
Desliza pela água e o pai dele junto com a parteira retiram
ele da água e colocam no meu colo. Não pensei em nada. Na verdade levei um
susto! Tá nasceu? Meu deus! E agora? Que emoção. Como ele é lindo. Ai pera,
nasceu? Ué, tá respirando? Calma, vai respirar. Confia!
E depois de longos segundos com ele ali, recosto e sento com
meu marido atrás me apoiando. Ficamos ali por algum tempo. Nos conhecendo. Contando
seus dedinhos e conferindo: é menino mesmo!
E acabou o expulsivo! Foi o momento mais incrível da minha
vida! Sem dúvida! Todos os dias penso nas sensações que ele me trouxe e aprendo
uma lição!
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Estou preparando um vídeo do meu parto. Quase 10 meses
depois! Hehehe mas daqui a pouco sai!!!!!!
Com amor, Gabi.
Algumas fotos:












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